agaiche-se um pouco
e contemple a vida pela visão
das crianças, dos animais e das flores
Por um tempo eu tive medo de escrever sobre os meus sentimentos, como se fosse minha responsabilidade como os outros o tratariam
Que bobagem, quanto tempo eu perdi por não entender o quão simples e bonito pode ser
Deixar estar
Quantas pessoas passaram pra me ensinar o que hoje eu sei?
O mundo foi bom comigo, apesar das minhas ingratidoes em não reconhecer naquela época as pessoas diamantes que cruzaram comigo
Que bom que tudo foi como foi
Que bom que tudo vem sendo como será
E por assim
Simples assim
Eu olho para o céu e como em uma oração, rezo para as estrelas, que há bilhões de ano-luz não existem mais
Mas aos meus olhos
Meus olhos tão esperançosos
Reconhecem e sabem
Que sempre estarão aqui.
selembra? quando a gente era tudo amigo
e voávamos sem rumo, com as mãos dadas e suadas
pois nada atrapalhava
o perpendicular e sonoro: nós
hoje eu escuto musicas tristes e choro feliz
pois entendi um pequeno pedaço do meu cérebro
e esse pequeno pedaço já se faz suficiente no momento
ainda há todo o resto, é verdade
mas também há uma eternidade
um infinito próximo ao sonoro infinito universal
e enquanto mastigo meus lábios e vejo meus olhos
engulo firme
o meu proposito.
quando estou longe de casa e me dou conta que as minhas decisões me levaram até ali - em um lugar que nunca estive antes e com pessoas que as circunstâncias trouxeram de encontro ao meu caminho - gosto de olhar para cima, e naquele momento, enquanto reconheço as estrelas que vejo no céu, lembro que é o mesmo céu que vejo do meu quintal e a distância não passa de uma palavra mal interpretada, que a minha consciência ainda limitada, custa a entender.
com cada pessoa especial que já estive na vida, houve um momento de estalo. aquele perfeito momento que pensei: este é o momento. o momento que ficará eternizado em minha memória e como eu me lembrarei daquela pessoa para sempre, quando tudo em volta já não for mais o mesmo.
e uma sensação consciente me invade ao me dar conta que o que estou vivendo ali é um simples instante que passará, que já está passando e pronto, passou. mas que devido a esse estalo, tudo se perpetuará em minha memória para sempre, se tornando a lembrança de alguém. alguém, que por alguma circunstância da vida, um dia não estará mais aqui e passará a ser apenas uma parte importante da minha memória.
e durante esse estalo, eu a olho e penso: veja só, como somos ingênuos. estamos aqui, sem nos dar conta que o tempo, melindrosamente, está ocorrendo & correndo, roubando de mim e de ti, o que temos no agora.
nessas frações de segundos que o estalo ocorre, um desespero chega a me tomar conta e uma vontade súbita de interromper tudo para anunciar o que se passa, como se houvesse chance de fuga para nós. então eu me dou conta que não há e diante da minha incapacidade, me calo e me deleito sobre aquele momento. enquanto você, inocentemente, continua sendo você e segue fazendo o papel de ser você mesmo, sem perceber o que acabou de acontecer.
selembra daquela vez? daquele tempo... quando eu era bem mais jovem e você já era velho. hoje eu me pego pensando, que sou mais velha que você era naquela época. a idade sempre foi algo que fez parte do nosso contexto desde o nosso primeiro dialogo: " -quantos anos você tem?" "- e porque um número importa tanto?". tenho quase certeza que você parafraseou isso do pequeno príncipe.
mas voltando, selembra? quando nos encontrávamos à escondida do mundo, atrás da piscina da ufmt, quando os flamboyans floresciam um vermelho alaranjado da mesma cor das minhas unhas. e o beijo terno e carinhoso de uma virgem. se eu não me engano era agosto e ao contrário dos agostos dos meus últimos anos, aquele ventava úmido e agradável.
havia uma simplicidade de não se pensar em futuro e nem em quem éramos fora dali. a simplicidade do be here now. não havia celulares, nem cobranças. havia apenas um e-mail enviado e a expectativa de não ocorrer um desencontro. só a expectativa, sem desejar controlar o que aconteceria dali para frente.
naquele sábado de agosto choveu, lembro que corríamos e riamos pelo bosque da universidade, enquanto você tentava me proteger inutilmente da chuva, até chegarmos no shopping para nos secar com as roupas da riachuelo.
tenho uma memória fotográfica, de você sorrindo com seus dentes perfeitos, usando uma camiseta branca e cabelos molhados, como um garoto que estava brincando na chuva. e me lembro de naquele momento me sentir com a mesma sensação - que espantosamente - sinto agora, eu mais velha e você apenas um garoto.
o teu mal
cura o meu mal
e me transforma
e cada sufoco
que eu transformo em alívio
me alivia
te alivia
e cura o teu mal
e tudo fica bem, meu bem